“Provavelmente nenhum outro economista marcará sua época como o fez Adam Smith. Nunca qualquer outro foi tão sereno, destituído de revolta, tão penetrantemente crítico, sem rancor, e tão otimista sem ser utópico. Ele viveu numa época de humanismo e razão. Mas, embora ambas estas qualidades pudessem ser pervertidas pelos mais cruéis e violentos propósitos, Adam Smith nunca foi um chauvinista, apologista e não fazia concessões sobre seus valores e crenças fundamentais” — Heilbronner, L. Robert, no livro The Wordly Philosophers.
Adam Smith nasceu em 05 de junho de 1723, em Kirkcaldy, na época uma pequena cidade portuária da Escócia, situada poucos quilômetros ao norte da capital Edimburgo. Os seus progenitores foram um advogado, funcionário público, também chamado Adam Smith, que morreu 05 meses antes do seu nascimento, e Margareth Douglas Smith, que morreu em 1784, seis anos antes do seu filho único. A. Smith nunca se casou nem teve filhos ou filhas.
Ele iniciou seus estudos formais na Burgh School da sua cidade natal. Em novembro de 1737 se matriculou na Universidade de Glasgow, onde, no primeiro ano, estudou Lógica e Metafísica. No ano seguinte começou seus estudos de Filosofia Moral, que abrangia Religião Natural, Ética e Jurisprudência (Jurisprudência, por sua vez, incluia Justiça e Leis, Instituições Políticas e Economia Política). Foi quando conheceu e se tornou aluno de Francis Hutcheson, à época o professor titular da cadeira de Filosofia Moral, que viria a conquistar a sua maior admiração e respeito e de quem recebeu destacada influência. No seu último ano em Glasgow estudou Filosofia Natural (estudo da natureza) e matemática.
Em 1740, obteve uma bolsa de estudos e se transferiu para o Balliol College, uma das instituições de ensino superior integrantes da Universidade de Oxford, na Inglaterra, que fora fundada com o objetivo principal de instruir candidatos a membros da Igreja Episcopal Escocesa. Naquela época, grande parte dos professores das universidades na Grã-Bretanha eram membros de Igrejas. Smith tinha interesse em seguir a carreira acadêmica, mas não em ser um clérigo. Em 1746 decidiu então que deixaria Oxford e retornaria inicialmente para a sua cidade natal, na Escócia, sem contar, naquela época, com qualquer garantia prévia de trabalho remunerado.
Adam Smith e David Hume
Em novembro de 1748 ele começou a dar palestras públicas sobre Retórica na Universidade de Edimburgo, patrocinadas pela Sociedade Filosófica. Em seguida vieram palestras sobre História da Filosofia e Jurisprudência. Foi nessa época, ainda como professor freelance, que Adam Smith passou a fazer parte dos círculos intelectuais de Edimburgo e conheceu David Hume – de quem se tornaria amigo íntimo até a morte dele – e outros personagens importantes do Iluminismo escocês.
Em 1751 retornou às suas origens na Universidade de Glasgow, inicialmente como professor de Lógica e Retórica. Mas logo no ano seguinte se tornou o titular da cadeira de Filosofia Moral naquela instituição. Em 1758 foi promovido a “Lorde Reitor” dessa mesma Universidade, posição que ocupou até janeiro de 1764.
Parecem-nos nítidas as evidências de que A. Smith começou a vislumbrar um projeto de uma obra polimática para executar a longo prazo, já na sua temporada como palestrante em Edimburgo, nos últimos anos da década de 1740, e durante os primeiros anos como professor na Universidade de Glasgow, no início da década de 1750.
Ao longo da sua vida ele escreveu e lecionou sobre um amplo espectro de temas que abrangeram filosofia, psicologia, história, metafísica, linguagem e artes, ética, leis e governos e economia política. No entanto, em vida publicou apenas uma obra filosófica sobre ética e outra sobre economia política. Como já expusemos anteriormente, na década de 1970 a Universidade de Glasgow organizou uma primorosa edição dos seus dois livros publicados em vida e de parte da sua obra que foi resgatada post mortem.
Testemunho Precioso sobre Vida e Obra de Adam Smith
Dugald Stewart (1753 – 1828) foi um matemático e filósofo escocês considerado um dos personagens mais importantes da última fase do Iluminismo no seu país. Foi Professor de Filosofia Moral na Universidade de Edimburgo de 1785 até 1810 e um dos fundadores da Real Sociedade de Edimburgo.
Como já dissemos, A. Smith também havia sido aluno de Francis Hutcheson no curso de Filosofia Moral em Glasgow, tendo se tornado mais tarde o seu professor titular. Dugald Stewart fazia parte do mesmo círculo de relacionamentos de Smith e era um admirador das obras de ambos. Mesmo tendo declarado que não pretendia escrever biografias, acabou se tornando um respeitável comentador e divulgador das obras de Adam Smith e de Hutcheson. Em 1793, três anos depois da morte de A. Smith, ele apresentou o importante “Relato sobre a Vida e Escritos de Adam Smith” na Royal Society of Edinburgh.
Dissemos numa postagem anterior que o tema fundamental intencionado por A. Smith para o seu projeto de obra foi o processo civilizatório e a felicidade para todos os seres humanos. Nesse relato Stewart expressa com clareza o que achava acerca dessa motivação:
Dr. Maclaine de Hague, que foi um estudante colega de Mr. Smith em Glasgow, disse-me alguns anos atrás que as suas matérias de estudo favoritas na universidade foram matemática e filosofia natural. Essas, contudo, certamente não foram as ciências nas quais ele foi formado para se destacar; nem o desviaram por muito tempo de atividades mais agradáveis à sua mente … O estudo da natureza humana em todos os seus ramos, mais particularmente da história política da humanidade, abriu um campo ilimitado para sua curiosidade e ambição. Mas a sua paixão dominante era contribuir para a felicidade e a melhoria da sociedade.
De fato, o projeto inacabado da obra de Adam Smith – incluindo a parte que hoje se encontra disponível depois da publicação da Glasgow Edition – se refere aos aspectos fundamentais envolvidos num processo civilizador, tais como a “institutional building” (construção de instituições sociais adequadas), a economia política, a consciência humana e as ideias e concepções que efetivamente podem contribuir para esse processo.
Nesse sentido, a Justiça, como parte da Jurisprudência – tema sobre a qual Smith pretendeu escrever e publicar um estudo completo em vida – trataria de formular princípios universais para a elaboração de Leis Constitucionais (Cartas Magnas) que serviriam para todos os países. O objetivo principal dessas Cartas Magnas seria, antes de tudo, harmonizar a liberdade de cada indivíduo com a liberdade dos demais.
O seu interesse fundamental sempre foi o bem-estar da humanidade, num sentido muito além do progresso econômico.
Periodicamente, poderemos realizar reuniões online dedicadas exclusivamente a esclarecer dúvidas e compartilhar ideias sobre o conteúdo até então já disponibilizado neste blog.
Para mais informações entre em contato com a Organizadora do Autor:
Jacqueline Lima
O ESPAÇO DE CRIAÇÃO
E-mail: oespacodecriacao@gmail.com
REFERÊNCIAS
O testemunho de Dugald Stewart sobre a vida e escritos de Adam Smith intitulado “Relato sobre a Vida e Escritos de Adam Smith” foi republicado no volume da Glasgow Edition intitulado “Ensaios sobre Temas Filosóficos”.